Estamos entre os campeões em cirurgias plásticas estéticas. De acordo com a International Society of Aesthetic Plastic Surgery, em 2013, o Brasil realizou quase 1,5 milhão de procedimentos. Perdeu apenas para os Estados Unidos. Os mais procurados são a colocação de prótese (silicone) e a lipoaspiração. E tudo indica que os números não devem diminuir, pelo contrário. Um novo tipo deve entrar na lista de preferências: a bichectomia.
O nome não soa muito bem, mas a novidade tem ecoado positivamente. Trata-se da retirada da gordura indesejada das bochechas. O termo bichectomia vem das Bolas de Bichat, as duas bolsas de gordura localizadas entre as maçãs do rosto e a mandíbula. Elas estão presentes em todas as pessoas, independentemente do peso, e dão ao rosto um aspecto arredondado.
A universitária A.S., 22 anos, decidiu falar sobre o problema, mas sem se identificar. Ela se lembra como se fosse hoje dos apelidos repetidos pelos colegas, durante boa parte da infância. “Cara de almofada, cara de colchão e fofão. Acredita? Tudo isso porque minhas bochechas eram gordinhas. Eu não estava acima do peso. O corpo era normal, mas as bochechas chamavam a atenção”, conta a jovem.
O procedimento, que pode dar um fim na insatisfação da estudante, e de outras pessoas incomodadas com as bochechas cheinhas, já é comum nos Estados Unidos, há um bom tempo, e realizado por celebridades norte-americanas. Agora, tem chamado a atenção, principalmente, das mulheres brasileiras. Tanto que em 2015 foram realizadas pelo menos 30 cirurgias, por mês.
Mas calma. Nada de sair por aí já com a decisão de marcar a data. “O único objetivo de quem faz a bichectomia é estético. Mas o resultado esperado pode não ser o aspecto obtido por conta dos diferentes formatos de faces. A vontade do paciente deve ser respeitada, no entanto é preciso uma avaliação e uma boa conversa com o médico. Ele poderá adiantar se o novo desenho do rosto ficará bom, se esse é o procedimento mais indicado e se atenderá à expectativa”, explica o Dr. Cesar Daher.
O bate-papo com o profissional serve também para tirar dúvidas quanto ao passo-a-passo. Importante saber que o paciente recebe anestesia geral ou local. O corte – de aproximadamente um centímetro – é feito dentro da boca para a remoção parcial ou quase total das bolsas. O tempo de cirurgia varia de caso a caso, mas em média vai de 40min a 1h30min. A técnica permite afinar o rosto em até 70% de espessura das bochechas.
Logo depois, o rosto poderá ficar inchado. Em geral, os médicos orientam usar compressas de água fria. Outro cuidado fundamental é restringir a alimentação – sob orientação do especialista – nas horas seguintes à operação. Além disso, o pós-operatório inclui o repouso relativo por alguns dias.
O cirurgião plástico Dr. César Daher faz o alerta diante da possibilidade de um procedimento sério virar moda. “Não é porque se trata de uma cirurgia mais simples que deve ser banalizada e realizada por qualquer pessoa sem capacitação. Tem que ser por especialista capacitado para tal procedimento. A responsabilidade dele é a mesma em outros procedimentos estéticos. Ele vai pedir exames pré-operatórios, inclusive a avaliação de um cardiologista. É importante entender que, como toda cirurgia, a bichectomia é invasiva e oferece riscos”, destaca o especialista.
A preocupação do Dr. Cesar Daher tem como fundamento um fator muito delicado. No rosto há vários nervos e entre eles aqueles sensitivos que enviam mensagens ao cérebro. Possíveis falhas que danifiquem essas estruturas, durante a cirurgia, podem resultar numa paralisia facial.