O saudoso Nelson Gonçalves, nos versos de “Olheiras”, descreve as marcas como sequelas do sofrimento: Quando vivias comigo/ Não tinha duas olheiras/ Que agora tens, meu amor/ Olheiras são cicatrizes/ E os olhos dos infelizes/ Não disfarçam muito bem. Já o compositor João Bosco as tem como amuleto, como mostra uma das estrofes da canção “Doces Olheiras”: Das damas às cozinheiras/ Ninguém resiste ao mormaço/ Das minhas doces olheiras.
Elas podem até servir de inspiração para os cantores, mas tiram o sono de quem convive com o problema. Não existem estatísticas oficiais quanto ao número de pessoas com olheiras, o sexo e a faixa etária mais vulnerável. Há quem afirme que as mulheres são as maiores vítimas. Sabe-se, apenas, da maior incidência em etnias como os povos árabes, turcos e indianos.
O espelho, por si só, encarrega-se de refletir um sinal que não agrada nem um pouco Karice Miranda dos Santos, Ana Amélia Brito dos Anjos, de 39 anos, e Glaucia Lobo Ribeiro, 33 anos. Elas são jovens, bonitas, vaidosas e persistentes na luta contra o problema surgido cedo. “Eu tenho desde pequena, mas só na adolescência começaram a incomodar. São pretas e fundas. Incomodam porque estou sempre com a aparência de cansada, olhar pesado”, desabafa a secretária parlamentar Ana Amélia.
O nome científico das olheiras é hiperpigmentação periorbital. A pele da pálpebra é a mais fina do corpo, o que faz com que os vasos dessa região sejam visualizados por transluscência. Assim, esse aspecto arroxeado, que é característico dessa alteração, pode ser desencadeado pela presença desses vasos e pelo acúmulo de pigmento (melanina).
Não há cura, contudo pode ser feito o controle. O profissional preparado para tratar disso é o dermatologista. A Dra. Darleny Costa Daher ressalta que essa alteração tem várias causas, entre elas, a genética. “Se os avós e pais tiveram, a chance de desenvolver é maior. Há outros fatores que facilitam o aparecimento, como cansaço, insônia, formação óssea do rosto, tabagismo, ingestão excessiva de álcool e pigmentação da pele. Pacientes com pele morena têm maior propensão”, esclarece.
A lista das causas não para por aí. A bancária Karice dos Santos ouviu o seguinte diagnóstico. “Eu já fui a vários dermatologistas. Eles me disseram que é genético, e a alergia respiratória que tenho desde criança agrava o caso”, conta a bancária. Isso mesmo! Algumas doenças respiratórias de origem alérgica podem desencadear as olheiras. Isso porque elas resultam em dificuldades na respiração e, na sequência, causam prejuízos na irrigação e na oxigenação na região dos olhos.
E se, por um lado, as olheiras são causadas por algumas doenças, por outro aparecem como sintomas de outras. “É exatamente o que ocorre com os distúrbios da tireoide e a falta de ferro no sangue, que deixa o rosto pálido. O mais importante de tudo isso é saber a origem, o que motivou o aparecimento. Ciente da causa, é possível optar pelo tratamento mais adequado”, exemplifica a Dra Darleny.
A Glaucia Lobo Ribeiro, após o tratamento, tenta dar um jeitinho aqui e ali para disfarçar. ”Uso sempre corretivos para trabalhar. Certo dia estava em uma chácara e tiramos uma foto. Fiquei constrangida. Os olhos estavam com uma mancha preta, porque eu estava sem corretivo”, relata, sorrindo, a jornalista ao se lembrar da situação que passou.
Quando as olheiras são momentâneas, algumas horas de descanso podem ser a saída, porém, se forem definitivas, não há um remédio que coloque um fim nisso. Os dermatologistas indicam procedimentos voltados para amenizar e melhorar a aparência. Entre as opções estão os cremes à base de substâncias clareadoras, os lasers, peelings e preenchedores, podendo ter bons resultados.
E as dicas caseiras, podem reduzir as marcas? As compressas geladas com água termal e chá de camomila podem reduzir o edema dessa região, devido à vasoconstrição local, mas o efeito é apenas imediato.
“Importante sempre procurar a orientação de um dermatologista. O tratamento ideal para um paciente pode não ser tão eficaz no outro. Além disso, nada de acreditar em produtos milagrosos e de solução praticamente imediata. Outra dica é mudar os hábitos de vida. Dormir melhor, evitar o cigarro, reduzir o consumo de álcool são decisões que podem fazer, e muito, a diferença”, orienta a especialista.